terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Epidemia da escuridão: todo mudo é censor em Foz do Iguaçu

Este pequeno texto é dedicado à censura. Nos últimos anos aumentou o número de censores na Terra das Cataratas. Em todas as administrações anteriores que eu tenho acompanhado como jornalista, de Álvaro Neumann a Samis da Silva, quando eu queria obter informações sobre, digamos meio ambiente, eu ia diretamente à secretaria e falava com o secretário, com o responsável da área em questão. Era a mesma coisa em saúde, educação, indústria, comércio e outras.

Hoje não. Hoje, tudo tem que sair da Comunicação Social. Ou você tem que ouvir o programa de rádio do prefeito no sábado. “O prefeito anunciou em seu programa de rádio no sábado...” Em uma grande quantidade de assuntos, só falando com o procurador do município. Isso inclui questões que vão desde as denúncias de descuido da saúde até questões de projetos civis: “as obras na região cinco começam em dez dias”, diz procurador. É uma questão de queda de qualidade mútua - a da imprensa e a das administrações.

E a coisa (a doença) pega. A estrutura de atendimento do Parque Nacional no domingo de carnaval ficou pequena para entender as 13 mil pessoas que passaram pelos diversos currais de acesso e trânsito purgatorial lá dentro. À tarde, telefonei para obter informações (não gosto disso, gosto de ir lá, imiscuir-me na multidão). Pergunto por telefone: o movimento foi grande? A resposta: Não posso dar esta informação. Não, só quero dizer se foi alguém aí visitar o Parque?

Resposta: Não posso dar esta informação. Informação só com o ICMBio. Ligo para o ICMBio. Informação só com a concessionária. Informação só depois do feriado! No começo do ano, a concessionária Cataratas do Iguaçu S.A. divulgou quanto repassou ao Fundo Iguaçu em dois anos. E o ICMBio ainda não divulgou quanto arrecadou no exercício de 2o11. É informação no estilo de balcão de aeroporto quando os vôos atrasam. Pior, quando o avião cai. É a desinformação. E a doença pega e continua se espalhando.

Ontem fui a um hotel onde se realizava um encontro de astronomia (imagem do cartaz) no nível profundo do universo que reuniu um grupo seleto de gatos pingados de terráqueos que se interessam pelos primeiros “discos” de massa e gases formadores dos núcleos das estrelas que nascem nas inúmeras “maternidades estelares" do Universo. Os gatos pingados reunidos no hotel de Foz, têm um peso de informação e inteligência tão alto que o único motivo que justificaria o fato de eu ser barrado pela recepcionista seria a segurança deles. O que talvez fosse justificado pelo problema sério de terrorismo que Foz do Iguaçu tem. Certo? E assim, o povo de Foz do Iguaçu não pôde ler a minha matéria sobre o que os astrofísicos estavam fazendo em Foz. Era um direito de informação de um pequeno grupo de iguaçuenses que poderia ter se interessado pela formação de protoplanetas, protoestrelas no universo. Para o dono do evento, não sair nada sobre ele é ruim. O que ele vai recortar para colocar no seu arquivo na USP? Afinal é interessante para a universidade que o público saiba que ela existe, além do evento ser do interesse de todo brasileiro. Afinal, até 2027, parece, o Brasil espera investir mais de US$ 1 bilhão no ELT – um telescópio extremamente grande no Chile que pertence ao ESO dono do evento realizado em parceria com a IAG-USP. Não lhe interessaria saber onde o Brasil vai colocar mais de um bilhão? (Cartaz do Evento)

Isso acontece justamente no dia em que o Brasil sabe, de passagem, que a Base Antártica Comandante Ferraz explodiu. Ora a maioria nem sabia que existia uma base brasileira na Antártica. E só soube dela depois da explosão. É uma pena. Assim conclamo aos iguaçuenses a que sejamos solidários uns com os outros e permitamos que cada um faça seu trabalho. E aproveito para informar que a informação é um direito da população. Por isso o interesse de muitos em ocultá-la isso no caso dos funcionários públicos mencionados no início.

No caso do hotel, a recepcionista dizia a alguém que eu pedia autorização para falar com não sei quem*. Pedi-lhe que me mandasse alguém para escoltar-me até o local do evento. Lá, na porta do local onde acontece a reunião, aparece mais um senhor que fechou o passo e foi ele perguntar ao responsável pelo evento se podia atender. O responsável pelo evento disse que no final da sessão atenderia. Nenhuma queixa contra ele. Eu informei ao funcionário do hotel, que esse trabalho meu é comum e de praxe, que eu precisaria aproximar-me da porta, empurrar a porta , entrar com o fotógrafo, deixa-lo fazer uma foto e ele sairia. Eu continuaria lá dentro assistindo a reunião. O assunto não era de segurança pública quer dizer não era da ABIN - Agência Brasileira de Inteligência. Se fosse eu teria entrado porque minha missão é essa: entrar em qualquer lugar e registrar que a reunião existiu. Mas não deu. Agora vou enviar um link (cópia) deste material para a assessoria de imprensa em São Paulo contratada pelo hotel de Foz para que a assessoria, lá de São Paulo, instrua ao hotel sobre o que fazer nesses casos. Ou que não mande release (relíse) para a imprensa. Para quê?



Nenhum comentário: